Primeiro filme de projeção internacional do diretor Jordan Peele, Get Out — Corra, é um marco do que se tem chamado de terror racial: obras que se utilizam da linguagem dos filmes de suspense e terror para abordar a realidade concreta do racismo.
O filme é um brinde à semiótica, pois traz um conjunto de metáforas interessantes, sobretudo na relação entre a ideia de hipnose e a forma como o racismo castiga e submete as subjetividades dos corpos oprimidos a partir das estruturas de poder.
Ao contrário do que muitos pensam, o filme não é sobre fantasia e traz assuntos concretos como as relações abusivas de trabalho e o tráfico de pessoas e órgãos.
Há quem pense que Get Out é só ou tão somente só sobre riscos de uma relação interracial em um país onde o genocídio negro foi normalizado, mas aborda de maneira brilhante, como o racismo pode ser costurado de maneira sutil no tecido social e, ainda que nem sempre esteja materializado no assassinato de pessoas negras, sempre irá causar graves consequências sobre seus corpos.
Além de tudo, o filme apresenta uma linguagem delicada, com fotografias belíssimas, texto inteligente, personagens bem construídas e direção impecável.
Texto: Bruna Rocha