A Síndrome do negro único nas representações midiáticas
Patricia Hill Collins e Grada Kilomba nos ajudam a pensar a ética binária do racismo, constituída por um eu ontológico universal branco e a construção de outridades a partir desta referência inicial e absoluta de humanidade. Daí, deriva-se um movimento psicanalítico de constituição da dualidade sujeito-objeto, ética fundamental da dominação racial do projeto colonial antigo e moderno.
Roland Barthes, ao tratar do mito enquanto uma operação semântica de esvaziamento do signo de sua historicidade, também nos ajuda a pensar a síndrome do negro único nas representações midiáticas do mainstream. Construir a negritude como excepcional, isolada de sua comunidade, encaixada no projeto da branquitude, é mais perverso do que se não tivesse nenhum negro, pois reforça a ideia benevolente da cota — que jamais dá conta de nossa diversidade e constrói um ambiente de ressentimento entre os nossos pelas migalhas que o sistema concede.
Ainda na pista de Barthes, ele vai dizer que a construção do mito sempre vai demandar a presença do signo, ele vai estar ali, mas sua presença será subtraída, malemolente, maleável à manipulação de sentido, transformada em barganha semiológica, diferente das presenças-sujeito, transformada em presença-objeto.
Texto: (Bruna Rocha)